dezembro 29, 2014

[Ciber Cultura] A pressão das Redes Sociais

A revista do SESC de Janeiro/2015 tem uma entrevista interessante com Peter Pál Pelbart, filósofo, e professor titular de Filosofia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Nesta entrevista, ele faz alguns comentários interessantes sobre a influência que sofremos da tecnologia e das redes sociais.

Eu selecionei abaixo os trechos que me pareceram mais relevantes:
  • Com a proliferação e disseminação das redes sociais, o discurso se tornou muito superficial, plano? - Sim, e às vezes dá vontade de se desconectar. Com toda essa infosfera tão saturada, essa circulação de signos, informações, imagens, solicitações e imperativo de reagir imediatamente, vira e mexe eu tenho vontade de sustentar uma desconexão ativa que pode dar algum espaço para pensar, para que o que se diz possa ter algum sentido.
  • O [filósofo e escritor italiano] Franco Berardi tem uma ideia bonita relacionada ao neuromagma, que seria essa espécie de caldo de signos, imagens e estímulos incessantes em que todos estamos mergulhados e que excede muito a nossa capacidade humana de formular, elaborar. A partir disso, o que nós temos é mais uma reação do que uma posição. A gente reage mais a ondas psicomagnéticas, de informação, entusiasmo, terror, que atravessam o campo social. Reagimos a essas ondas como se não tivéssemos mais a capacidade de pensar.
  • Há uma espécie de homogeneização de certo modelo de classe média consumista ocidental que vai tomando conta do planeta junto de certo tipo de entretenimento, percepção, uso do espaço, regulação do tempo e outras coisas que são do pós-Fordismo, sem essa separação tão estrita do tempo do trabalho, do descanso, do entretenimento. Tudo isso se mistura um pouco. Quando você está no computador, você não sabe se está trabalhando, se está socializando, se entretendo etc. As fronteiras se desmancharam e nós estamos o tempo todo em um estado de alerta, de conexão, de produtividade.
  • E essa confusão cada vez mais evidente entre a vida real, cotidiana, e uma vida de ficção, sugerida? Isso tem a ver com a diminuição do espectro de vontades? - Claro, existe uma luta contra certos poderes, contra certos tipos de dominaçã
  • Sou a favor de que haja suspensões, que haja paradas, interrupções nesse trem louco que vem vindo há muitas décadas numa velocidade crescente e nos obriga a mobilizar toda a nossa energia com finalidades cada dia mais desconhecidas e inúteis. Enquanto não se frear esse trem, não será possível inventar finalidades outras que não a produção pela produção, o lucro pelo lucro e essa espécie de racionalidade capitalista que nos enlouquece literalmente.

Analisando a opinião do Peter Pál Pelbart, é impossível discordar de que hoje existe uma grande e invisível pressão para que estejamos sempre conectados, não apenas nas redes sociais, mas em todas as formas de comunicação online.

Os e-mails da empresa, os comentários familiares no WhatsApp, as mensagens e likes no facebook: tudo exige nossa interação imediata e não existe mais fronteira entre trabalho, descanso e diversão. Quem nunca respondeu um e-mail de trabalho durante as ferias ou a noite, antes de dormir? Quem nunca respondeu uma mensagem de whatsapp dos amigos ou parentes durante o horário do expediente? Esses pequenos atos acabam destruindo, aos poucos, a nossa noção de fronteira entre trabalho, casa e descanso.

Outra coisa muito interessante é notarmos esta diferenciação entre a vida real, cotidiana, e a vida online, qua acaba sendo uma vida de ficção. Isto é muito evidente em redes sociais como o Facebook: criamos um perfil idealizado de nós mesmos, aonde postamos fotos e opiniões que tendem a mostrar uma imagem específica, pasteurizada, de nós mesmos. Sugerimos uma imagem que não reflete a total realidade do dia-a-dia. Quem quer saber que hoje fiquei sem água e luz em casa e, por isso, só fui tomar banho de água gelada as 14h porque não aguentava mais o meu próprio cheiro? Não é melhor postar uma notícia sobre as chuvas e criticar o governo, que é exatamente o que a maioria das pessoas fazem? sem perceber, seguimos um script, um roteiro subconsciente que pasteuriza a todos: somos todos felizes, cercados de amigos, familiares, gatos e cachorros engraçados. No mundo online, vivemos cercados de paisagens deslubrantes, pôr-do-sol, praia, etc.

Como disse Peter Pál Pelbart, "Não tem coisa mais decepcionante do que você seguir o script de roteiro pré-fabricado. Há uma depauperação na imaginação sobre o que é desfrutar, o que é se divertir, o que é descobrir, o que é ter uma experiência. Você cumpre um destino. É um desafio coletivo, cultural, saber o que é realmente destampar a imaginação. Esse despotismo do “desfrute”, “goze”, “tenha prazer” e “consuma” obtura totalmente a imaginação."

Um comentário:

Deivison disse...

Cara, excelente! Eu só acho que a "pasteurização" depende muito da pessoa. Acho que existem "perfis" e "perfis" (e não estou me restringindo só ao Fb) e isso ainda dá margem pra conversa.

Agora, a parte que mostra que estamos no modo "sempre ligado" e que a barreira entre vida pessoal e trabalho vem caindo não poderia ser mais exata!

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